O Milagre e a Surpresa 〰


A Vida é um milagre, a morte é uma surpresa 

Na Síria, no Iraque, entre os judeus

A luta contra morte parece caso difícil pra Deus.

Tem refugiados sem cobertores

Sem sonhos e proteção da chuva e frio,

Tem soldados deixando seus amores

Ao servir sua carreira varonil. 

Essa crise mundial, essa crise política 

não há melhor opção a votar

Não há mais balanço de valores 

Não há igualdade entre nós

Tudo em fase crítica:

O amor prostrando-se as dores

O princípio deixado para trás. 
No Norte, abertura do fim

No Brasil, “Perda Total”

Na Venezuela, ditadura

Mas o povo triunfa contra o mal.

Brexit, para chocar a Europa

Orlando, carnificina de ‘eus‘ e ‘vocês

Pois diante do Eterno há uma final resposta

Lembre-se do ladrão ao lado de Cristo na cruz, a morrer. 

Desmatamento a beça 

Logo não teremos mais o verde

Ontem já perdemos uma peça 

O grande Chapecoense.

Descuido de pais? Gorila brincando com menino,

E Crocodilo sendo… Crocodilo

Olimpíadas, uma grande conquista? 

Medalhas de ouro, de prata e bronze

suficiente para “calar” o mundo? 

Precisamos mesmo provar que somos bons

Ou apenas meditar nisso por um segundo

Objetos ficam. Títulos são esquecidos. A traça corrói o manto. As lágrimas escorrem por campeões que já erguem a taça, num céu, infinitamente digno. 

Nesse mesmo mundo, tem gente que nem se quer tem uma refeição. Par de sapatos. Camiseta. Tem crianças sobrevivendo pela graça e misericórdia. A humanidade segue vivendo em discórdia. A união, o abraço, são efeitos apenas da surpresa súbita no penhasco. 

Tartarugas marinhas & biologia estranha

Poluição extrema nos oceanos & plantações de cana

Invasão de alunos, violência, destruição 

Desacato a autoridades, desacato a sociedade

E no lixo se vai a educação
Filhos matando pais. Balas perdidas. 

Pessoas morrendo por motivos banais

O ego buscando triunfo em todas as medidas. 
O amor esfriando, a raiva liderando

Religiões tornando-se uma só 

Papa, Rei, Mohammed 

Feito pássaros presos em um nó.
Não somos nada, somos um instante

Do pó viemos e pra lá retornaremos 

E segue a ciência tentando justificar 

Mas o fim, amigos, é inevitável 

E a morte não costuma a sua chegada avisar
Eu perdi uma tia, tio, 

Mariana também sentiu

E foi-se o Rio.

Antes Doce, cheio de vida

agora amargo, vazio, 

cheio de dores – 

história e biologia apodrecidas. 

Que o nosso interesse de vida

Não perca o foco. 

Não é o material, não é o nome

É o propósito antes da fortuna,

É o princípio antes da sabedoria,

É o amor reinando por todas essas vias. 
Quantas vezes o mundo parou para chorar esse ano? 

França, Orlando, América, Brasil, Venezuela

Iraque, Síria, Italia, Japão… 

Poderia ter sido seu time de futebol favorito 

Poderia ter sido seu irmão 

Poderia ter sido eu e você 

Poderia, mas não foi

Então façamos da vida, esse milagre eterno

Triunfo de sabedoria e não do ego. 

Ticiele de Camargo© O Milagre e a Surpresa, 2016.